segunda-feira, 12 de abril de 2010

"...Rasgos de virtude..."

Fugi. Hoje fui eu quem fugi. Não sei se de mim, se de ti.
Os cheiros tendem a desaparecer em meu redor. A maresia não sabe igual. Falta-lhe algo, ou falta-me algo. Talvez a essência, ou talvez apenas os sentidos não tenham despertado comigo hoje.
Apesar disso consegue ser o melhor refúgio. O mar é imperioso. As ondas afastam as gaivotas, engolem o sol no horizonte, e têm movimento. Causa-me inveja. A areia cria novas dunas, aqui e ali, e é o que me fascina, dá-me a capacidade de acreditar que talvez um dia regresses. Que o teu corpo seja areia e voe de novo para esta duna, tão perto. Adiante.
O vento é o mais doloroso. Bate, resfria, seca, vai embora, e nem tenta fazer-me companhia. Ao menos este regressa. Parece entreter-se enquanto me toca com mais e mais violência. Por pior que seja, faz-me sentir vivo, e por breve instantes não te vejo em todo lado.
As lágrimas molham esta tarde solarenga. Caem-me da cara como uma torrente mesmo que as tente impedir. Desfocam a tua imagem que, inconvenientemente, é descodificada pela retina. Mas estás aqui, é impossível deixar de te sentir. Era aqui que vinhas comigo, naquelas tardes de verão. Fechava-te os olhos e beijava-tos. Deixava-te segura. Os meus dedos tocavam os teus lábios. Os meus lábios seguiam-se. Tocavam os teus suavemente, frescos e salgados. Estremecias com o meu toque e a tua respiração sentia-a em mim. Abrias os olhos e via paixão. Ho sim, paixão! Tu querias-me acima de tudo, e eu desejava-te mais do que tudo.
Abano a cabeça e a memória é apaziguada. Mas a vontade vive em mim como fogo que nunca apaga. Vejo os teus olhos de leite e mel. O teu sorriso é inconfundível. Tentas tocar-me e ouço a tua voz.
-Estou aqui.
Tento tocar a voz, mas sinto um mero arrepio. Nunca quis que me deixasses. Quero-te perto, bem perto, quero que me toques, que me beijes, quero ver-te. Um Amor assim nunca deveria separar-se. Há algo aqui que me dói bem mais. Talvez por ser a minha imaginação, talvez por ser um mero peão a querer fazer xeque-mate, ou talvez porque perdi a “minha praia”.
Vou esperar. Mas por agora vou ficar por aqui…só quero ver…