sexta-feira, 13 de agosto de 2010

...(Des)continua...

Foi hoje, sobre a chuva extemporânea, que o mundo me soube a ti. As gotas de água bombardeavam o meu ser sem causar dor, finalmente. Escorregavam sobre mim como o teu olhar enquanto me tentavas ler, enquanto te esforçavas por tentar decifrar os meus códigos de conduta indecifráveis, e tentavas calcular o incalculável, de certo. Sem saberes, olhava-te com bem mais que o olhar penetrante, a postura complexa, e a paz de espírito. Observava-te com o coração de quem se quer dar, com a alma de quem quer entrar na epopeia que é habitar dentro de ti e ter o papel principal nos teus mais profundos mistérios.
Deambulei pela avenida calcetada até á praia pisando, uma e outra vez, as poças que a calçada portuguesa conservou. A praia, essa, usa a chuva a seu bel-prazer. As ondas dançam valsas de mil paixões. A areia assobia de felicidade enquanto o vento a translada. Os rochedos, de voz rouca, impõe-se perante tal cenário, em vão. Esquecem-se que jamais irão a lugar algum, tal como eu me esqueci, em tempos, que a praia era a nossa casa. Já fiz de rochedo, de onda do mar, de sol, de chuva e até de duna. Inclusive, construi a nossa casa em sargaço e conchas multicolor para te manter. Tu, ao invés, preferiste adoptar essa postura de gaivota desnorteada, e seguir o vento por rotas orientais, meridionais, passar por glaciares, e um dia cair de cansaço em alguma outra praia que não a minha. Pois bem, assim seja. O que é certo é que a teu favor não tens mais que a ligeira brisa que sentes sobre a pele, e mesmo essa começa a fugir de ti para mim. O segredo está no passo continuado em que caminho. Sigo fielmente o traçado elíptico do movimento de translação da vida, vou-te marcando o caminho de volta para casa, mas tu nunca cá chegarás porque eu não quero. Perde-te, mas perde-te como eu. Perco-me no novo, na saudade pelo desconhecido, e numa nova descoberta. Perco-me no ponto de encontro. No ponto de encontro com a felicidade, que é alheia a ti. Sem analogias de qualquer espécie e, só por si, tem mais valor que esse teu voo desenfreado por terras de nenhures.