quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Palavras da Alma





Abro o livro da alma e leio mesmo as entrelinhas...quem disse que não havia leitura de sentimentos? Sigo fielmente as regras de escrita nesta panóplia de ilusões encantadas, escrevo com tinta minha, desta que só existe dentro de cada um de nós.
Viro lentamente para a próxima página, ainda pensando no que já havia lido, e murmurando palavras até para mim desconhecidas. Amo esta descoberta: a de me ler, a de me descobrir, a de me surpreender. E agora que me questiono vivo mais, sinto mais...sinto cada palavra a rejubilar como um cristal e cada linha a levar-me para outra dimensão. Sinto-me indómito!
São dois prazeres simultâneos, estes que eu sinto. Em cada linha o aprofundamento. Em cada linha a expansão. Ora, aprofundas o conhecimento pessoal, mas ao mesmo tempo libertas-te.
Desenho cada letra como a última, e tudo reflecte o mais profundo desejo, o mais profundo regozijo....palavras escritas que me beijam e me aquecem.
Este é o sentir da alma, o despertar do desejo. São as questões para as quais não encontro resposta. Tudo pode ser transparente e opaco no mesmo segundo. Tudo pode ser mais um passo, mais um sorriso, uma esperança.
Esta é uma campina que ainda terei de explorar, um caminho que terei de cruzar sozinho, caminho esse que está alojado na linha ténue entre o existencialismo e o segredo da minha divindade.
Quantas estrelas nos separam dessa glória? Quando parará o Tempo e será lido o nosso Destino? Só a alma responde, entrelinhas, às nossas incertezas.
Caminho no sentido de descobrir quanta luz tem o cosmos do meu interior, quanta verdade tem o bater do meu coração. espero que alguém ouça este grito abafado que solto e que vai preso em cada suspirar.
Já não vejo uma, senão um sem fim de dimensões...todo o meu olhar se perde, toda a minha alma deseja. Busco sentidos, perco-me em mim.
A minha escrita é intemporal. Parece que, para além de viver com o mundo, vive em mim mesmo. Poder-se-ia pensar, que num espaço fechado, apertado. Mas não...é vasto; perde-se na memória. É a grandiosidade que nos torna pequenos, sem rumo. Um grito aqui dentro é um murmúrio entre todas as esferas. Aqui só a certeza delirante e ilusória de que temos vida é espelhada , soa, e sibila. Aqui toda a mágoa é criada e apagada. É a essência da vida controlada por algo mais forte que a própria realidade...
Há um vento dentro de nós que, ora nos abraça, ora nos fere com imposições que não desejamos. Aprendemos com cada gota de tinta o que é sofrer mas também o que é ser feliz, como aprendemos com cada gota de chuva o que é chorar, o que é crescer. Percebo, finalmente, que escrevo como quem pinta uma aguarela. Dissolvo a tinta da cor com que vês o Amor e a dor, de certa forma flagelada, gasta, exânime, de matiz paradoxal ao que me falas com o teu olhar.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

certezas para quê?


Olhava para todas as paredes, para todos os cantos, para todas as frinchas…fugia daquele calendário que tinha pendurado e que mostrava aquela data de á três anos atrás, quando me dei a ela pela primeira vez, quando a tive pela primeira vez, quando disse pela primeira vez na minha vida que a Amava de verdade…Amar de verdade é suicídio!
Aquele primeiro beijo, em tudo perfeito, era o primeiro beijo de adeus. Quando me desejavas boa noite estavas a querer dizer até nunca. Hoje sentia saudade…
Deu-me uma súbita vontade de sair pela porta que dava para o exterior, para o mundo da acção, para a vida; saí devagarinho para me habituar aos raios solares que já não me tocavam de á três anos até a data, decidi caminhar para onde quer que os meus pés me levassem. Quando dei por mim estava já a 5 quarteirões da minha casa, os meus pés não paravam, continuavam afincadamente. Até que, esbarraram naquela avenida…
Pensei que ganhava ao passado nas rectas, mas, ele apanhou-me na curva!
Ali estavas tu! Vendias sorrisos como sempre, lançaste outro feitiço de Amor, não sei bem se tenho inveja ou pena… o que é certo é que há coisas que nunca mudam!
Lembro-me dos rios que chorei, agora estranhamente secaram, perderam caudal. Tenho um dilema. Não sei que fazer. Tinha uma falsa esperança que voltasses para mim. Seguiste a tua vida.
Agora é ele que te diz o que queres ouvir…
Queria ser eu a dizer-te as palavras que tanto precisas, dizer que te Amo, que estou sempre do teu lado, que os teus olhos brilham e me aquecem, que gostava de ser o ar que respiras, que eu sou teu…mas não, estas palavras já não as ouves de mim, mas são minhas!
Procuro na minha sabedoria interior a resposta para o que fazer, acho que a descobri, deixo-te caminhar lado a lado com o teu novo Amor. Viro costas. Sinto uma mão nas minhas costas, deduzo por segundos que seja o peso da minha consciência a empurrar-me para fora daquele teatro mal encenado. Mas era ela! Viu-me e correu para me vir perguntar como estava…pergunta estúpida para a ocasião diz ela…de facto era! Mas pouco me importava. No meio daquele silêncio dizes-me que tens saudades minhas…pfffffff…ridículo!
Um dia quis-te ganhar no teu jogo, mas hoje, o jogo é meu! Hoje brilho como um diamante! Rolo como um dado que calha mesmo no número seis…a sorte protege o audaz. Caia o Carmo e a trindade se estiver errado! Hoje jogas a tua parte, hoje jogo o meu jogo!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sería assim...


Apesar de te detestar, sinto-me preocupado. Sei que estás aí no teu cadeirão em forma de casulo e com cheirinho a menta como é habitual, e para mim muito familiar, debruçada sobre as cartas que te enviei mas que tu nunca leste. Já não aguento mais, uso e abuso do meu bom senso mas o coração fala mais alto e faz-me caminhar na direcção daquela porta ao fundo do meu corredor, semi-pintado. Pego na gabardine, não sei bem se para me proteger da chuva que cai pesadamente lá fora, ou, para me sentir mais seguro, para receber a segurança que tive em tempos do teu lado. Saio apressadamente, ouço os meus paços na água que rasteja, dirijo-me para tua casa a três quarteirões da minha, a cada passo sinto mais força de vontade, a cada paço sinto mais medo, a ferida aberta no meu coração lateja a cada segundo, paço na porta daquela casa com a velhinha á janela e alcanço a tua no meu horizonte visual…Avanço para a tua porta e sinto-me vazio; outrora levaria um ramo de flores, ou uma caixinha daqueles chocolates que tanto adoras…agora levava-me a mim num tal estado de descontrolo que o meu corpo perdia a coordenação e já não aparentava ser tão atlético como habitual. Bati a porta sem saber bem como…os segundos pareciam passar como a torrente de água que enchia as ruas ruidosamente.Abriste-ma com ar esperançado. Ao veres-me adoptaste um rosto de quem queria dizer tudo mas nada saía. Tentaste falar mas logo te parei…silêncio era imperativo! As minhas cicatrizes eram cortes profundos de palavras tuas! As tuas palavras ainda me apareciam fantasmagoricamente no pensamento e ainda me valiam as lágrimas que me vias a escorrer agora no rosto. Choras em consonância comigo…não sei se te choras ou se me choras…tenho pena de ti, não devia, não podia, mas tenho. Abraças-me, como fazias em tempos quando me levavas o pequeno almoço á cama logo pela manhã, pedes-me desculpa com todo o coração… vejo que tens a lareira mal acesa, nunca a acendias na perfeição sem mim, montes de papeis queimados são agora cinzas, levam memórias e pagas caro por isso…memórias queimadas, jamais abandonadas! Vives naquilo que queimas-te, foste consumida com o fogo que deficientemente criaste; mas espera, estou cá eu…deixa-me fazer parte dos 5 minutos de história que tivemos, deixa-me fazer cumprir o resto do meu destino, deixa-me amar-te como te prometi…diz-me em que parte do passado me deixaste!