sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"...O labirinto..."




"...Ouve o barulho a prometer a velocidade
Onde todos vão comer, sorrir, amar sem ser verdade
Já ninguém tem força p'ra sair da ilusão
Liberdade construindo uma prisão
Será que é assim que a roda vai girar
Ou é só mais um corpo fraco e cego demais..."




""

Senta, recosta e presta atenção.
Hoje vou ser um momento na tua fingida eternidade. Um momento no tempo que fizeste escapar por entre esses dedos que muitas vezes se entrelaçaram nos meus. Era de esperar.
Sentes-te em desequilíbrio, as náuseas são uma constante com as quais nunca, algum dia, vais saber ombrear. Eu era o teu suporte, era a chuva do teu inverno, o sol do teu verão e o castanho nas tardes de Outono que vives-te, pensas tu, em sonhos que passavam como a queda obrigatória de uma qualquer folha de árvore recortada pelo vento. Adiante.
Até poderia parecer que o destino nos quebrou. Podia, eventualmente, parecer que o nevoeiro nos assolou e que a tua alma aluiu e se tornou no álveo mais profundo do estranho universo de sentimentos que orbita em torno do teu nada. Confusão tua. Era semelhante a ilusão que acreditas-te estar encerrada no trabalhar forçado do teu coração. Reparas-te sequer que era eu quem de ânimo pesado te abraçava o corpo molhado pelas chuvas que se despenhavam em ti particularmente? Não creio. Esqueceste-te do espaço e linhas ténues que havia entre o Amor e a paixão. Deixaste-te escamotear pela atmosfera abafada que havia no espaço inatingível que pretendias, aliada a maus augúrios, alcançar. Largares a mão foi o soltar da amarra, que era tudo o que ligava o meu cais á tua bela nau. Com um sopro que desconhecia ter, bufei às tuas velas hasteadas, e com a mão em riste apontei-te o caminho da perdição. Navegavas por águas que eram suor nosso em noites de Amor que confundiam a razão. Velejavas sabendo que o sopro que te oferecia era o respirar que sentias na tua pele. Olhavas o horizonte que ias perdendo, com o sol no zénite, enquanto trincavas o lábio para tentar segurar o sabor dos meus lábios nos teus, enquanto te beijavam na loucura jamais vivida em qualquer odisseia. Deixavas os teus cabelos esvoaçar inconscientemente á espera que a minha mão to apanhasse. Fechas os teus olhos escondendo a vontade insaciável de me ver, fugindo á doce visão que era o meu olhar penetrar em ti e levar a definição do conceito de Amor, para ti, há muito olvidado. No fim te digo. Vou continuar a escrever-te e a contar-te o que se vai passar a seguir porque o teu passado já não te quer, o teu presente chora pela paixão que abandonaste, e o teu futuro depende de mim e da falácia a que chamas vida, cujas premissas tenho vindo a reconstruir por ti, por Amar sem ser suposto.