segunda-feira, 24 de novembro de 2008

...Revolução...

Caio com a cabeça no parapeito da janela, a tristeza pesa mais que a gravidade. A respiração é quase nula como se tivesse a hibernar, a mágoa aperta. Aquela noite. Aí aquela noite! Não me sai da cabeça, é a dor fundeada na minha essência. Cabisbaixo tento olhar em frente, mas não vejo mais que aquela velha árvore do meu jardim. Nestas alturas fala-se para o ar, como se passássemos a acreditar em Deus, como se ele fosse a atmosfera, a água, o céu e a terra.
Não pode ser! A sociedade está em depressão. Porque buscas o que não vês? Acreditas? Acredita! Deus não é ser mais papista que o papa, vestido com longas vestimentas bordadas a ouro, pago com maquias exorbitantes de pessoas que passam fome. É a ironia da vida, o engano dos cegos, a fome dos pobres. Só um louco desejaria sofrer, mas quem sofre jamais perderá a sua humildade. Procura esse equilíbrio. A vida não é fácil. Não te enganes. A minha não é. A tua não há-de ser.
Deslizo para fora daquela janela. Começou a chover. O Vento dança valsas alegres nas copas das árvores. A vontade foi enorme. Apoderou-se de mim. Saí pela porta fora como se esperasse algo do outro lado (ou alguém). Era só chuva. Pronuncio de solidão. Uma pequena flor desabrochava no chão, apesar da Natureza adversa. Passei a mão numa carícia. Como podes tu estar de pé, debaixo da torrente de água, e eu aqui? Perguntei, recordo-me.
Dá força. Liberta esperança. Canta vitória. Não estás sozinho. Luta, a força está na vontade. Emancipa-te. O mundo é bom por ser assim. Tudo sobe, tudo desce. Tudo cresce, tudo acontece. E tu? Revoluciona! Acredita! Sente de coração e deseja!
A chuva parou. O sol raiou. Ela chegou a tua porta…
Dá o grito do Ipiranga!!! Que liberdade...













Peço desculpa pela demora mas as frequencias dão-me cabe dos planos todos =0)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Noites passam, Vidas acontecem...


Pé ante pé entrei. Bati a porta, que chiava como de costume, e senti a atmosfera aquecer-me o rosto, subtilmente, com o calor que fazia adivinhar uma lareira acesa. Vi luz no nosso salão e de esguelha consegui ver-te deitada. Não te queria acordar. Isso seria acender o rastilho de um pote de pólvora. No entanto, tenho contornos de preocupação por ti. Peguei na manta, que muitas vezes nos tapou nas noites de desejo e de entrega, e cobri-te como se fosse o teu progenitor, como se fosses a minha criação. E eras. Eu moldei-te para mim, recordo-me. Dormias sossegada (pensava eu), sentei-me a observar-te, não pensava em nada exactamente mas queria ver-te, já que não tinha coragem de te olhar nos olhos ao menos aproveitava o teu sono para me acobardar. O relógio de parede cantava as 3 badaladas, não se pense que da tarde, mas sim da madrugada. Beijei-te o rosto em tom de despedida, ho se foi! As tuas bochechas rosadinhas pelo calor, contavam-me que havias chorado, faziam-me acreditar cada vez mais na culpa que sentia, mas dava-te valor. Valor por simplesmente chorares. Já não o conseguia fazer, tornei-me tão frio quanto o gelo.
Virei costas e pousei o casaco em cima da cadeira da longa mesa que recheava a sala. Levantaste-te mais rápido do que os meus reflexos conseguiriam prever, impulsionada pela raiva e revolta que fiz crescer dentro de ti, olhaste-me intrépida, não me receavas. Disse-te olá como se não quisesse tocar na tua ferida aberta, e te oferecesse o lenitivo milagroso. Aí é que foi! No meio de discursos inflamados, dissertações mentirosas e fingidas, actos irreflectidos balbuciavam sons estupidamente deprimentes. Ambos sabíamos que o trabalho era uma desculpa oportuna para procurar prazer alheio. Felicidade num prelúdio de infidelidade e culpa. Precariedade substantiva é o que é. A procura do éter da vida, do elixir que torna as horas em segundos, “matryoshkas” que escondem sempre mais um segredo dentro de si sem nunca se revelarem.
As tuas palavras fizeram-me sentir exumado, apátrida, sem rumo, sem nada. Que sujeito trai a mulher que Ama? A tentação é traidora. Faz-nos acreditar no sabor a caramelo, no cheirinho a lavanda, no som de fundo relaxante, no toque suave e doce que jamais terás. Ilusão. O orgulho salvava-me da vergonha (quantas vezes não acontece?), não me deixa baixar a cabeça em tom de desistência. Sempre fui assim.
Paraste. Viste que já não te ouvia. O meu interior repreendia-me mais do que tu. O meu olhar ficou vidrado. Porra! As lágrimas estrearam-se escorregando tristemente no meu rosto. Disse que te Amava…até parecia que ia resolver alguma coisa. Olhaste-me fixamente nos olhos que curiosamente me ardiam, e, ao mesmo tempo, na minha boca um sabor salgado invadia-me as papilas gustativas.
A manhã chegava ao som do galo muito característico da minha localidade. Os raios de sol entravam pelas frinchas ainda abertas da persiana. Já tinha passado muitas noites acordado do teu lado, mas nenhuma como esta. O Amor que sentia por ti nunca se desvanesceu, brincou comigo tão somente. A força invísivel que me atrai para ti não é a gravidade, é algo sem denominação, é mais exacto que a matemática, maior que os Mundos a descobrir. È a vida num sopro. Não me deixes ir…