segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"...Desenlace..."


 
 
"...If you were here beside me(...)
If the curve of you was curved on me
I’d tell you that I love you..."
 
A chuva cai do céu antigo bombardeando os sonhos do homem. As nuvens lutam por esconder a luz que dá vida, receando que haja outros voos tão altos como os seus. O mundo treme furioso reclamando o que nunca seu foi, move as areias do tempo e traz ao de cima os impérios caídos, os rasgões dos destinos proibidos pela razão, as histórias que ficaram por contar nos livros sem capa nem lombada.
Seguro-me insistentemente á rocha firme e inamovível, que reveste a minha alma. Sustenho a respiração e as lágrimas confundem-se com as gotas de chuva pesada que se abate sobre a terra já húmida pelos lamentos dos seres de pele enrugada que já por cá passaram, enquanto me debato para não largar a segurança das suas extremidades macias cedendo ao peso do mundo.
Vem meu amor, não me deixes cair. Vem abraçar-me. Vem fazer desta rocha a nossa muralha impenetrável. Vem rasgar os céus com o brilho daquilo que a homem algum pertence. Vem parar a chuva e os ventos revoltos com o fogo que jamais se apagará. Vem…

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"...Só nós dois é que sabemos..."


"...Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha eu serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Dentro da nossa porta..."



  Segura a minha mão e olha-me nos olhos. Deixa-me prometer-te os encantos de um mundo que vamos criando desde que os despachos divinos assim decretaram. Deixa-me prometer-te os anseios de uma vida regida por Leis superiores á palavra de todo o homem. Deixa-me prometer-te o incomensurável, o infinito, o sem fim, e o simplesmente belo. Deixa-me ser a tua perna esquerda quando ela te falhar, e o teu sorriso quando ele não quiser ver a luz do dia. Deixa-me fazer-te sentir o rasgar da minha Alma quando me abandonas, e o vazio do meu coração quando deixas de me olhar. Deixa-me ser “tu”, e peço-te, sê “eu”.
Fecha os olhos. Encosta o teu corpo ao meu. Deixa que o meu cheiro te invada e te leve ventos frescos ao mais íntimo do teu ser. Deixa-me recuperar o bater do teu coração e a doçura do teu olhar, o arrepiar da tua pele quando os meus dedos te saboreiam numa viagem que percorrem desde tempos esquecidos pelo próprio mundo. Deixa-me terminar a tortura que é manter a respiração dentro dos padrões do aceitável, e com ela fazer-te uma serenata ao ouvido capaz de te gelar por dentro. Deixa-me pedir-te perdão em silêncio por ser tão pequenino perante a tua grandeza. Deixa-me guiar-te numa valsa inesperadamente irrequieta debaixo da copa das árvores, e fazer o nosso mundo girar, e de repente parar, quando os meus lábios te derem mais do que aquilo que a razão conhece, quando te oferecerem algo tão maior do que tu e eu.
Deixa-me contar-te o que dizem as palavras que falo calado, e os olhares que te dou de olhos cerrados. Mas não pares de dançar meu amor. Mesmo que o cansaço te tome não te deixarei cair. Mesmo que a música do mundo termine, dançarei no uníssono incansável dos nossos corações e beberei do Amor Eterno que de nosso tem tudo, e não tem nada. Deixa-me cravar, a ferro e fogo, no mais profundo do teu ser, a Eternidade que te espera em mim!    

segunda-feira, 5 de março de 2012

"...Palimpsesto..."

"...Well i can see the pain in you,

and i can see the love in you,

and fighting all the demons will take time,

it will take time..."








A chuva precipita-se a bombardear o mundo. As tábuas de madeira que formam o caminho por entre as dunas escurecem, mudando de cor tão rápido como um camaleão exibindo a sua técnica perfeita de disfarce. Aliás, tudo aqui parece querer disfarçar-se. A lua torna-se voluntariamente pouco nítida, escondendo a sua estranha inquietude. O mar esconde a insegurança que sente na sua voz rouca e monocórdica, por detrás do crepitar da chuva a embater violentamente na areia, que apesar do impacto se apresenta falsamente indemne e imutável. As gaivotas e mergulhões vêm em formações bem organizadas para terra não demonstrando o medo incontrolável que sentem da mais pequena intempérie. O vento mostra-se pacífico, disfarçando os aromas a odisseias perdidas no tempo, das especiarias esquecidas no horizonte, das histórias por contar de epopeias que nunca chegaram a existir. Por minha vez, apenas olho o caminho de madeira. Parece tão complicado dar um passo que seja. Piso as tábuas de madeira fazendo-as ranger á minha passagem. Paro com receio de que cedam, faltando-me a coragem de prosseguir. O meu corpo está dorido por dormir num chão que insistiu em não amolecer a meu mando, recusando-se a entender a dor que sinto em adormecer num qualquer lugar sem ti. Não sei se são lágrimas que me caiem em catadupa pelo rosto, ou se é a chuva que na sua rebeldia me quer encharcar sem dó nem piedade. Somente sei que não passo de uma fábula escrita em papiros devorados pelo tempo, cuja moral é a de que nenhum homem algum dia poderia ser força da natureza. É dúbio diria. Contigo criava elementos naturais desconhecidos pela natureza, proibidos por deliberações do consílio dos deuses, temidos pelos comuns dos mortais. Recordo-me. Contigo sou capaz de tudo! Os céus abriam-se quando os meus dedos tocavam a tua pele, tão suavemente como penas trazidas por ventos glaciares, arrepiando-te incontrolavelmente; O tempo inexistia quando o desejo da minha respiração tocava os teus lábios anunciando um beijo repetido em vidas passadas, conservado em mim para te dar até ao fim dos tempos; O vento enlouquecia quando os meus lábios provavam o néctar que os teus poros insistem em produzir para mim; Perdia-se a cisão entre noite e dia quando o teu ser e o meu se confundiam e a Alma bradava aos céus mensagens encriptadas por anciães de outros mundos, e os nossos corações batiam num uníssono que definia o movimento indefinido da vida; O mundo era nosso, a natureza era nossa, o Amor é nosso!
Fecho a gabardine como se isso me fosse proteger dos perigos que o caminho por entre as dunas me pudesse reservar. Ficar parado, ou voltar para trás parece ser a escolha ideal sem ti. Desaprendi a caminhar sem a tua mão. O teu sorriso iluminava-me o caminho mais soturno. O teu caminho é o meu caminho e, se o meu coração não me engana, eu quero-te! Se a Alma não me falha, eu Amo´te!