Eu sabia e tu também. Era fogo ardente de uma noite, sedento de prazer, amor e, talvez, calor. Não sabia e tu também não, que os nossos olhos tinham mais do que essa aparente voluptuosidade recheada de paixão abrasiva, obsessiva, prematuramente instalada em ti, inconscientemente crescente em mim.
Sobre o meu peito pareces encontrar paz. Impávida e serena. Plácida. Sem desconfiar que dentro de mim uma miríade de sentimentos invade o mais íntimo e sofrido pedaço de alma, descansas.
Estremeço quando os teus olhos pousam em mim como pétalas, cor de avelã, suaves, expectantes. Era tudo que menos queria sentir. Tocaram o meu coração. Jamais sentira tanto medo. É o preço a pagar. Pobre de mim. Só sei o preço desse olhar mas recordo-me que “cínico é aquele que sabe o preço de tudo e o valor de nada”.
O medo circula-me nas veias, consigo respirá-lo. Cobre-me como fuligem negra e poeirenta.
Será este algum vírus teu com o qual me contaminas? Estou eivado por sentimentos imundos e destruidores. Onde está o valor? Onde está o Amor?
A respiração cessou. O mundo parou. A mente escamoteou pela última vez. Beijaste-me. Cheirou-me a camomila. Na verdade cheirou-me a Mundo, fértil, aromático, iluminado e soprado de uma ponta a outra. A temperatura pareceu ter descido 10 graus. Engoli em seco. Arderam-me os olhos ao conter as lágrimas, que ainda assim caíram. Limpaste-as com as tuas mãos de veludo, e cantaste-me um Amo-te ao ouvido.
Uma torrente de sentimentos passados quebrou a barreira entre mim e ti.
Mas hoje não. Não vou admitir. Sou orgulhoso demais. Desculpa. Por mais maravilhoso, mirífico, e imaculado que me sinta agora não saberei expressar-me. Eximiste-me de palavras há muito.
Parecendo adivinhar o que pensava tocas-me os lábios, os teus olhos pareceram quase fechar-se mas o teu rosto esboçou um largo sorriso.
Ontem tinha esperança de ter esperança. Hoje, já sei por quem os sinos dobram.
E o Sempre nasceu do nada…
~ aguenta coração
Há 8 anos