quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sería assim...


Apesar de te detestar, sinto-me preocupado. Sei que estás aí no teu cadeirão em forma de casulo e com cheirinho a menta como é habitual, e para mim muito familiar, debruçada sobre as cartas que te enviei mas que tu nunca leste. Já não aguento mais, uso e abuso do meu bom senso mas o coração fala mais alto e faz-me caminhar na direcção daquela porta ao fundo do meu corredor, semi-pintado. Pego na gabardine, não sei bem se para me proteger da chuva que cai pesadamente lá fora, ou, para me sentir mais seguro, para receber a segurança que tive em tempos do teu lado. Saio apressadamente, ouço os meus paços na água que rasteja, dirijo-me para tua casa a três quarteirões da minha, a cada passo sinto mais força de vontade, a cada paço sinto mais medo, a ferida aberta no meu coração lateja a cada segundo, paço na porta daquela casa com a velhinha á janela e alcanço a tua no meu horizonte visual…Avanço para a tua porta e sinto-me vazio; outrora levaria um ramo de flores, ou uma caixinha daqueles chocolates que tanto adoras…agora levava-me a mim num tal estado de descontrolo que o meu corpo perdia a coordenação e já não aparentava ser tão atlético como habitual. Bati a porta sem saber bem como…os segundos pareciam passar como a torrente de água que enchia as ruas ruidosamente.Abriste-ma com ar esperançado. Ao veres-me adoptaste um rosto de quem queria dizer tudo mas nada saía. Tentaste falar mas logo te parei…silêncio era imperativo! As minhas cicatrizes eram cortes profundos de palavras tuas! As tuas palavras ainda me apareciam fantasmagoricamente no pensamento e ainda me valiam as lágrimas que me vias a escorrer agora no rosto. Choras em consonância comigo…não sei se te choras ou se me choras…tenho pena de ti, não devia, não podia, mas tenho. Abraças-me, como fazias em tempos quando me levavas o pequeno almoço á cama logo pela manhã, pedes-me desculpa com todo o coração… vejo que tens a lareira mal acesa, nunca a acendias na perfeição sem mim, montes de papeis queimados são agora cinzas, levam memórias e pagas caro por isso…memórias queimadas, jamais abandonadas! Vives naquilo que queimas-te, foste consumida com o fogo que deficientemente criaste; mas espera, estou cá eu…deixa-me fazer parte dos 5 minutos de história que tivemos, deixa-me fazer cumprir o resto do meu destino, deixa-me amar-te como te prometi…diz-me em que parte do passado me deixaste!

1 comentário:

Mara disse...

Ola^^

Desculpa a invasão mas não resisti. Já ando há muito tempo para comentar um dos teus textos porque já chorei aqui.
Penso que foi neste...
Escreves imensamente bem!