quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"...Volta ao mundo em 80 dias..."

Cheguei. Cheguei ao lugar onde guardo cuidadosamente a minha serenidade e calma. A minha paz. Sento-me no estrado de madeira que faz de caminho por entre as dunas. As minhas mãos tocam o areal e tentam senti-lo. Ao invés, o vento frio de norte toca-me na cara congelando-me por fora. Esta era a sensação dos teus lábios beijarem os meus, recordo. Fecho os olhos para sentir esse breve esgar da minha memória.
O mar lança-se sobre as rochas abraçando-as com vigor, coisa que parece servir de divertimento às gaivotas que se deixam planar ao sabor do vento e que grasnam em uníssono. Costumavas rires-te comigo, nos inúmeros fins de tarde que passamos aqui. O meu abraço era o teu calor, o teu olhar era a minha perdição.
Pegavas, amiúde, nas camélias enraizadas junto dos chorões. Ironia do destino. A minha vida tornaste-a como estas camélias: sem cheiro.
Este é o único lugar que me desperta os sentidos. Tantas vezes estas mesmas gaivotas presenciaram um Amor ímpar. Sim, esse que me levaste. O Amor que as tuas mãos agarravam quando desciam pelo meu corpo. Quanto o teu olhar brilhante me pedia em ti. Quando sem a roupa estava mais calor que com ela vestida e o teu corpo era um só comigo. A praia desaparecia e tudo o que ouvia era a tua respiração ofegante junto da minha orelha que não resistias em tocar com os teus doces lábios, e os teus olhos apontavam para os meus fundeados em prazer divino.
Estremeço. A memória trai a minha sanidade. A saudade é mais forte que as forças da natureza, mas gela corações. A tua ausência é insuportável. Queria-te aqui. É com essa esperança que caminho cansado até aqui todos dos dias. Vejo-te aqui. Sinto-te aqui. Sou capaz de jurar que te ouço dizeres que me Amas. E que as tuas mãos agarram firmes o meu peito. Sinto um arrepio percorrer-me a espinha e fecho os olhos. Abro-os agora com uma sensação acutilante no coração. Bate. Bate. Pára por favor. Vejo-te no areal. Sou escamoteado pela tua miragem. Sorris para mim. Mas a minha loucura delicia-me. Devolves-me o calor á muito perdido. Voltas a desaparecer no horizonte. O meu mundo tem cheiro de novo. O perfume do teu sorriso. O aroma do teu olhar.
É a volta aos dias em 80 mundos.

7 comentários:

Anónimo disse...

Código de Da Vinci!
A Fórmula de Deus! Do melhor mesmo, também já li :)
E tenho 3 Nicholas Sparks na mesa de cabeceira, um já lhe resta pouco :)
Tens bom gosto :)
Quanto ao teu texto, gostei mesmo.
Tens muito vocabulário, consegues-te expressar da melhor maneira. Está lindo!
Um beijo.

Ana disse...

Há lugares que nos fazem mesmo dar "a volta aos dias em 80 mundos".
Como tu tens o teu lugar especial, eu tenho o meu, onde o mundo é encantado e se transforma em sonho quando a realidade teima em chegar...
Os nossos lugares são diferentes, mas temos o mar, que há-de ser sempre o factor em comum.

Texto muito bonito sim Sr! Parabéns ao escritor :)
Beijinho

Mara disse...

«Quando sem a roupa estava mais calor que com ela vestida e o teu corpo era um só comigo.»

És literatura de qualidade.

Margarida Sousa disse...

Ohhh obrigada eu. =) espontaniedade sempre eheheh =)

*vou passando sim, com muito prazer!
Um beijooo

Nádia Santos disse...

A volta aos dias, onde o mundo já chamou, já percorreu e já teimou em fugir do corpo...
A mente, o sonho, a realidade passada, perdida em breves instantes do presente intemporal, como se este tivesse a capacidade de se transportar ao longo de passagens perdidas pelo antes e recordadas para o depois.
Torna-te grande a capacidade mirabulante de representar aquele tempo antigo em algo futuro...Marcas do que foi com a ideia espelhada pela paisagem refundida em ti do que será.

Encanta com tais palavras, de facto, a surrealidade emocional confunde-se com a realidade fisica, onde recordas, onde procuras no teu eu, não aquilo que queres, mas aquilo que eras quando tavas com quem te apazigua o sentimento.

Bj

Catas disse...

eu para além de ficar sem palavras para os teus comentarios, perco-me nestes textos! Incrivel...

Mara disse...

Olá :)
Agora o meu blog só é visível a leitores convidados. Queria muito continuar a abrir-te as portas do meu cantinho. Se estiveres interessado manda-me o teu mail. Apago-o assim que o apontar para não ficar publicado;)