sábado, 4 de outubro de 2008

Solsticio divino


O vento assobiava suavemente por entre o vazio mudo do Mundo. Cego, surdo e mudo, diria eu. Aquele eucaliptal, que com todo o obséquio presenteava a atmosfera de um odor a menta, juraria eu, divinal.
Era este o caminho que percorria apressadamente, a horas matutinas, frequentemente, só para te ver. Nunca admiti mas era por isso.
Corro atrás do prejuízo, em vão, mas continuo incessantemente em busca do perdão que jamais terei. Sei bem disso. Por detrás de folhas estranhamente verdes na manhã outonal, com o meu código civil abraçado junto ao peito, lá te vejo eu mais uma vez.
É estranho. Estou a 15 metros de ti mas sou capaz de sentir o teu perfume. E o teu cabelo? Ai, o teu cabelo. Um dourado semelhante á areia reluzindo o sol, que, tão bem te fica contrastando com os olhos cor de avelã.
Num momento de loucura sinto os meus pés a querer avançar até ti. Que insanidade. Jamais me quererias ver. O teu sorriso está apagado á meses. Destruí o que mais gostava em ti, o que mais me aconchegava.
Corro no sentido contrário ao teu para evitar o inevitável. O sol aparecia agora por detrás das montanhas. O céu estava limpo. A minha vida um impasse.
O tecido persa ao qual chamo Vida está roto, está estragado, não foi bem tecido nem fiado, ganhou, repentinamente, semelhanças com um vaso muçulmano com toda a sua fragilidade, um tecido indiano com toda a sua pobreza de cor, uma esfinge sem adivinhas nem aventuras, uma pirâmide com um só caminho, uma bíblia em branco, uma montanha sem Maomé, um quotidiano sem conceito.
Nada é certo, mas tu ainda és menos, és a borboleta do meu jardim rosário a qual nunca apanharei. A mais bela. Ninfa num jardim de Ódin, nascida das pétalas de uma rosa branca.
Fiz uma descoberta. O que me prende neste mundo é apenas a gravidade, mas já nem isso me agarra aqui. Se soubesses que o vazio dentro de nós pode ser maior que a própria vida…não sabes, nem sonhas. Neste momento não passo de algo a descobrir por um Newton, ou Einstein qualquer. Sou teoria de relatividade, sou constitucionalmente consuetudinário, sigo-me por leis que não existem mas que são palavra da razão. Tu és imperial, a tua indiferença é bárbara, eu sou muralha da china feita em pó.

5 comentários:

Catas disse...

adorei o comentario, obrigada (:

e esse texto está mesmo bem escrito, parabéns :) *

Ana Moreira disse...

Este texto está absolutamente fantástico! Adorei, Parabéns!

"Sou teoria de relatividade, sou constitucionalmente consuetudinário, sigo-me por leis que não existem mas que são palavra da razão. Tu és imperial, a tua indiferença é bárbara, eu sou muralha da china feita em pó." - fabuloso!

Anónimo disse...

Excepcional!! Magnifíco!!
Parabéns, Diogo!!
Tá muito bom o texto.. muito bom mesmo!!
Senhor jogador de pólo...XD... Continua assim...
Felicidades para o futuro, que espero que seja auspicioso para ti.
Grande abraço!!

SofiaBasto disse...

Já há muito tempo que não lia algo assim.
O tipo de vocabulário que usas, é de facto espectacular.
Felicito-te por conseguires, tão bem, passar por palavras aquilo que muitos de nós já sentiram.

Parabéns!

A boca da loucura disse...

Foi ao ler este texto que eu me apaixonei pela primeira vez! Apaixonei-me? Sim! E voltei a apaixonar-me umas quantas vezes... Este cavalheiro que tanto fala de "Amor", ensinou-me que é possível ter várias paixões em simultâneo: tantas quantas as publicações que tive o prazer de descobrir.

Parabéns
Não só por aquilo que escreves, mas por aquilo que és :D

(Fã nº1 eheh)